Operação mira fraude milionária no Bilhete Único Intermunicipal com farra das ‘viagens fantasmas’

Segundo as investigações, donos de vans acionavam o validador várias vezes em minutos com o veículo parado, a fim de receber créditos do subsídio do estado.


Por: Felipe Freire, Jefferson Monteiro, Bom Dia Rio

Publicado em: 27/05/2025

Polícia cumpre mandado na Operação Caronte — Foto: Reprodução/TV Globo

A Polícia Civil do RJ iniciou nesta terça-feira (27) a Operação Caronte, contra uma fraude no Bilhete Único Intermunicipal. Segundo a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), donos de vans informavam transportar passageiros em viagens fantasmas a fim de receber subsídios do estado. A estimativa é que o prejuízo gerado por esse grupo chegue a dezenas de milhões de reais por ano.


Agentes saíram para cumprir 9 mandados de busca e apreensão. Um dos alvos acabou preso em flagrante: Altemar Pinto, apontado como chefe da quadrilha, foi pego por porte ilegal de arma.


“A gente percebeu que em várias viagens um bilhete era passado diversas vezes, e a van nem saía do lugar”, declarou o delegado Pedro Brasil.


Há ainda a suspeita de que veículos roubados ou com peças furtadas eram usados na fraude.


O esquema envolve linhas intermunicipais entre o Centro do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense — como Duque de Caxias, Magé e Guapimirim.


A polícia descobriu que os fraudadores simulavam dezenas de passagens por hora em veículos com apenas 15 lugares, utilizando-se do sistema de bilhetagem eletrônica. Cada validação gerava um crédito a ser reembolsado pelo estado, na forma de subsídio tarifário.


Em um dos casos, foram 34 validações em apenas 1 hora, sem que nenhum passageiro de verdade tivesse entrado na van. Em outra situação, um permissionário acionava o validador várias vezes com o veículo parado.


“Então, com base nesse elemento, a gente investigou esse crime de peculato, uma vez que essa passagem é subsidiada pelo governo, ou seja, dinheiro do estado que está entrando para eles, e com base nisso nós aprofundamos a investigação, conseguimos desbaratar essa organização criminosa, identificar a conduta de cada um e perceber que havia um esquema muito mais complexo de lavar de dinheiro, com, é, saques fracionados, transferências internas e empresas fantasmas”, detalhou o delegado.


Os alvos responderão pelos crimes de peculato, lavagem de capitais e constituição de organização criminosa, com penas que, somadas, podem ultrapassar 30 anos de reclusão.


O nome da operação é uma referência a Caronte, o barqueiro da mitologia grega que cobrava para atravessar as almas dos mortos ao submundo.


O que diz a RioCard


Em nota, a Riocard Mais esclareceu que colabora continuamente com as autoridades de transporte e segurança, “denunciando casos de uso irregular do Bilhete Único Intermunicipal (BUI)”. “É importante lembrar que o benefício é pessoal e intransferível, concedido aos passageiros com renda mensal até R$ 3.205,20”, informou.


“A Riocard mantém um controle rigoroso e efetivo a respeito da utilização de cada cartão cadastrado com o BUI pelo seu respectivo responsável. Por meio do sistema de bilhetagem eletrônica, com controles antifraude, é realizado o bloqueio dos cartões com utilização suspeita, conforme sanções apoiadas pela legislação em vigor. As informações são compartilhadas regularmente com as autoridades responsáveis”, prosseguiu.


“Recentemente, as vans que operam linhas intermunicipais também passaram a utilizar câmaras com sistema de biometria facial na fiscalização do BUI.”