Operação contra 'gatonet' registra tiroteio no Complexo do Alemão

Os agentes cumprem mandados de busca e apreensão em diversos pontos do Rio


Por: O Dia

Publicado em: 24/06/2025

Materiais apreendidos durante operação contra gatonet no Complexo do Alemão

Reginaldo Pimenta/Agência O DIA

A Polícia Civil realizou, na manhã desta terça-feira (24), a "Operação Cabo de Guerra", contra um esquema criminoso de monopólio forçado de serviços de internet em comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho, conhecido como "gatonet". No Complexo do Alemão, ocorreu um intenso tiroteio nas primeiras horas do dia. Devido a ação, 18 escolas municipais suspenderam as aulas. 


No decorrer da operação, tiros também foram registrados no Jardim Catarina, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Ao todo, os agentes cumprem mandados de busca e apreensão também em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; Cabo Frio, na Região dos Lagos; e em outros pontos do Rio. O objetivo é apreender documentos, mídias digitais, equipamentos de rede e registros financeiros capazes de comprovar os crimes praticados e ampliar o mapeamento da rede criminosa. 


Segundo investigações, os provedores clandestinos, com suporte logístico e operacional da facção, vinham impondo seus serviços de forma forçada e violenta à população, mediante sabotagem de redes legalizadas, ameaças a moradores e comerciantes e utilização de equipamentos furtados e veículos descaracterizados para atuação ilícita.


Equipes documentaram em vídeo e fotografias a ação de "operários" destruindo cabos de fibra óptica de provedores legítimos em Jardim Primavera, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Os envolvidos estavam vinculados a empresas apontadas como instrumentos do esquema.

Na Praça Seca, Zona Oeste do Rio, novos flagrantes indicaram que uma empresa estava retirando "concorrentes" à força. Um veículo da organização foi observado em patrulhamento irregular pela região, sempre associado a zonas onde os provedores rivais tinham sido silenciados.


Em outro ponto investigado, foi localizado um depósito contendo equipamentos de rede oriundos de furtos, além de peças automotivas de procedência duvidosa. A análise patrimonial identificou a aquisição de veículos provenientes de leilões de seguradoras, tática comum para dificultar o rastreio e camuflar bens utilizados em crimes.


A estrutura criminosa era composta por divisão clara de tarefas, desde a execução operacional, passando pela logística de sabotagem, até o controle territorial da oferta de internet. Essa configuração se enquadra como organização criminosa, além dos crimes de interrupção ou perturbação de serviço de telecomunicações, receptação e lavagem de dinheiro.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o controle criminoso sobre a infraestrutura de internet em comunidades fere o direito fundamental à comunicação, ao acesso à informação e à cidadania digital. “Ao impedir a atuação de empresas legítimas, o crime exclui populações inteiras de serviços básicos de conectividade, essenciais para estudo, trabalho, acesso a serviços públicos e liberdade de expressão”.

Além disso, ao eliminar as empresas legalizadas à força, esse modelo distorce o mercado, aumenta os preços e submete os moradores a serviços precários e sem qualquer regulação ou proteção legal, favorecendo o lucro de facções criminosas e a perpetuação de sua influência territorial.

A ação é realizada por agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e da 21ª DP (Bonsucesso) com o apoio da da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE).