Morre marido de médica que acusou Hospital Casa de Portugal de negligência e omissão
André Vommaro, de 46 anos, estava há 36 dias em coma
Por: O Dia
Publicado em: 05/07/2025
Rio - A médica Cristina Andres, que acusou o Hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido, na Zona Norte, de negligência, revelou que seu marido, André Vommaro, morreu na noite de sexta-feira (4), aos 46 anos. Ele tratava uma infecção adquirida no hospital e estava internado, em coma, há 36 dias, devido a complicações de um quadro de trombose.
A causa da morte foi um choque cardiogênico - condição grave onde o coração não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo. "Neste momento, ele teve atendimento que merecia. Cada dia é um plantão diferente com médicos, enfermeiras e fisioterapeutas diferentes", explicou.
Apesar disso, a médica acusou o hospital de omissão de socorro nesta última semana e registrou um boletim de ocorrência contra uma fisioterapeuta na terça-feira (2), na 6ª DP (Cidade Nova).
Segundo Cristina, o marido era asmático, e, na noite de segunda-feira (1º), apresentou uma crise de broncoespasmo e, assim que percebeu isso, pediu à equipe de enfermagem e um fisioterapeuta que acionassem um médico.
"O médico estava no horário de janta, veio outro colega depois de algum tempo para assumir o André e, neste intervalo, a fisioterapeuta compareceu aqui no quarto e eu me identifiquei como médica e pedi para que fossem adiantadas as medicações que estavam na prescrição porque eu já tinha me preparado para esse momento, eu sabia que ia acontecer", disse.
"Neste momento, ela olhou para mim e falou que estava ali só para segurar a mecânica do paciente e que eu era 'aquela que filmava e botava as coisas na televisão'", completou.
Em um vídeo gravado nessa semana no hospital antes da morte do marido, a médica desabafou chorando que o marido não tinha o tempo que a gente tem. "Não posso hesitar em nenhum momento para que meu marido tenha um tratamento digno, um tratamento de excelência e que ele seja respeitado e que ele tenha um pouco de dignidade nesse momento. Sei que tem muita gente que está nessa mesma situação que eu, que está passando por um problema que às vezes a gente não consegue ver o fim, que não tem uma solução, que não tem uma perspectiva de melhora, mas ele é a minha vida. Eu só tenho ele e eu vou fazer o que tiver ao meu alcance e fora do meu alcance para que ele tenha um atendimento de excelência", falou.
Procurado pela reportagem, o Hospital Casa de Portugal, divulgou a seguinte nota:
"O Hospital Casa de Portugal lamenta profundamente o falecimento do paciente André de Oliveira Vommaro e expressa solidariedade à família neste momento de dor.
Desde a sua admissão na unidade, no dia 10 de maio, o paciente foi assistido por equipe multiprofissional e por médicos contratados diretamente pela família. Todos os protocolos clínicos e assistenciais foram adotados de acordo com a evolução do quadro clínico, com registros documentados em prontuário e acompanhamento contínuo da Diretoria Médica.
A instituição reforça que dispõe de equipe de fisioterapia atuante e especializada, sendo os atendimentos indicados conforme avaliação clínica e critérios médicos, com registros em prontuário.
O Hospital Casa de Portugal reafirma seu compromisso com a ética, a segurança do paciente e a transparência, e permanece à disposição para prestar os devidos esclarecimentos às autoridades competentes e aos familiares".
Entenda o caso
André estava internado desde maio no hospital, mas, antes disso, já havia sido hospitalizado em março deste ano após sentir dores na cabeça e enjoos. Na época, ele passou por uma cirurgia e foi encontrado um cisto ventricular, que consiste em uma lesão no cérebro.
Semanas depois, André perdeu a força muscular da perna e voltou a ser internado no hospital, onde fez uma tomografia, sendo diagnosticado com hidrocefalia. O paciente passou por mais duas cirurgias na cabeça para colocação de uma válvula.
Até que, no dia 11 de maio, Dia das Mães, ele recebeu o diagnóstico de trombose e precisou novamente ser internado. Cristina contou que o marido deu entrada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade, mas não recebeu a assistência necessária pela médica do setor.
Além disso, a mulher gravou um vídeo do local com lixo espalhado pelo chão e uma lixeira transbordando. "Ele internou e foi para o CTI 3, onde estava toda a sujeira. A médica em momento algum avaliou ele. Não é só o meu marido não. No CTI, são 10 pacientes internados e ela não entra para olhar e examinar ninguém. É muita negligência. As únicas que entram são as equipes de enfermagem. Paciente de CTI não é um qualquer. Veja a complexidade do meu marido. São pacientes graves e delicados", disse.
De acordo com Cristina, após a internação para tratar a trombose, foi encontrada uma infecção no local onde aconteceu da hidrocefalia. A médica acredita que o fato tem relação com a falta de assistência e o ambiente insalubre. No dia 31 de maio, o quadro de André piorou e ele precisou ser entubado.
Cristina registrou o caso na 18ª DP (Praça da República). O Hospital Casa de Portugal afirmou que o paciente vinha recebendo toda a assistência médica necessária desde sua admissão e era acompanhado de forma contínua pela equipe médica contratada pela família.
Sobre o ambiente com lixo espalhado, a unidade destacou que não reflete a sua rotina e que adota rígidos padrões de higiene e controle ambiental. Segundo o hospital, eventuais não conformidades pontuais são apuradas internamente e corrigidas com a máxima agilidade.