'Legado impressionante': Cariocas exaltam cuidado de papa Francisco com os mais pobres
Fiéis lotaram missa em homenagem ao pontífice na Catedral Metropolitana, no Centro
Por: O Dia
Publicado em: 22/04/2025
A cidade do Rio foi o destino da primeira viagem internacional do papa Francisco, em julho de 2013. De lá para cá, cariocas guardaram na memória a visita e o carinho pelo pontífice. No início da tarde desta segunda-feira (21), fiéis lotaram a missa em sufrágio pela alma do papa na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro, e expressaram a admiração pelo primeiro latino-americano a ocupar o cargo mais importante da Igreja.
Maria José Florença da Silva, de 88 anos, contou ao DIA que ajudou na construção da capela São Jerônimo Emiliano, no Complexo de Manguinhos, na Zona Norte, visitada por papa Francisco durante a estadia no Rio. Por causa disso, a aposentada relatou que conheceu o pontífice e passou a tê-lo como seu protetor.
"Ele foi para a capela e eu beijei na mão dele! Dali, ele foi para a casa dos meus compadres, que apresentaram o meu neto com 15 dias de nascido. Ele fez as orações, foi muito bom. Quando ele recebeu os pobres lá na Varginha, um menino falou sobre ele e ele levantou da cadeira para abraçar o menino. Eu tenho ele como meu protetor e, agora, ele vai proteger tudo o que ele fez de bom para os pobres. Tem que entrar outro papa igual a ele", pediu Maria.
O engenheiro Sebastião de Araújo, de 76 anos, pontuou que o cuidado com os mais vulneráveis estava em falta na Igreja e foi resgatado pelo papa Francisco. Além disso, destacou que o líder religioso se posicionou contra as guerras e mostrou coragem durante o papado.
"O papa Francisco é interessante, porque ele recuperou, assim como Lutero fez, aquela ideia de Jesus, de olhar pelos mais pobres, olhar pelos sofridos, aqueles abandonados do capitalismo. Aquilo que Jesus trouxe, que todos nós podemos nos sentir filhos de Deus, independente de qualquer outra coisa. Independente do contexto, independente da riqueza, do dinheiro... Eu acompanhei a presença dele pelo Rio e estou aqui pelo carisma que ele tinha no sentido de retornar a Jesus. Em memória do papa Francisco, por ter tido essa coragem, dentro da Igreja Católica, que é um ambiente conservador, de tentar recuperar algumas coisas que Jesus nos disse", explicou o engenheiro.
Durante missa na Catedral Metropolitana, o Cardeal Orani Tempesta também relembrou a visita do papa ao Rio e falou sobre o legado de Francisco. "Agradecemos a Deus pela presença do papa que nos fez chegar ainda mais próximo do povo, das pessoas, e preocupado com tantas situações. Tanto da ecologia, como da fraternidade, do diálogo interreligioso e ecumênico, as preocupações que vivem em guerra... Enfim, tantos aspectos que marcam seu pontificado", pontuou enquanto presidia a missa.
A corretora de imóveis Silvana Oliveira, de 57 anos, acompanhou o ato litúrgico, assim como participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio, em 2013, com a presença do papa. Emocionada, ela afirmou que Francisco se destaca entre os outros papas pela dedicação aos pobres.
"A Jornada Mundial da Juventude, só quem esteve lá é pôde vivenciar o poder da fé e desse homem que veio sem preconceito para unir religiões. Eu sou católica desde criança, então nada mais justo do que vir aqui na Catedral homenagear, pedir o descanso ao Pai, para que ele seja levado ao melhor lugar e que não deixe de olhar por nós aqui na Terra. Esse legado dele é impressionante, eu acho que é o sentido da igreja, essa dedicação aos pobres. Eu acho que é tudo, é o princípio, é o objetivo, então ele alcançou realmente algo além. Não desmerecendo os outros, mas foi algo além", analisou.
Nascido na Argentina, o papa Francisco, cujo nome era Jorge Mario Bergogli, assumiu o cargo após a renúncia de Bento XVI em 2013. Ele permaneceu no cargo de líder da Igreja Católica por 12 anos.
Nos últimos anos, o pontífice vinha passando por uma série de problemas médicos. Por conta de sua saúde frágil, Bergoglio deixou de comparecer a alguns eventos da Igreja Católica, como a procissão da Sexta-feira Santa no Coliseu de Roma do ano passado e deste ano. Em maio de 2022, Francisco apareceu em público, pela primeira vez, em cadeira de rodas, por causa de uma crise de dores no joelho.
Em fevereiro de 2025, Francisco foi internado no Hospital Gemelli, em Roma, para tratar uma pneumonia. Ele também sofreu uma crise respiratória asmática prolongada e precisou de transfusão de sangue e aplicação de oxigênio de alto fluxo. Hospitalizado por 38 dias, mais longa internação desde que se tornou papa, ele recebeu alta em 23 de março.
Quase um mês depois, o pontífice morreu na madrugada desta segunda-feira. A causa da morte teria sido um derrame, segundo noticiou o jornal italiano Corriere Della Sera. Ele será enterrado em um caixão simples de madeira e fora do Vaticano, pela primeira vez em mais de um século. Francisco renunciou a uma prática secular, segundo a qual o chefe da Igreja é enterrado em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho.
Segundo as últimas informações vaticanas, ele optou pelo enterro na Igreja de Santa Maria Maior em Roma, em vez da Basílica de São Pedro. A escolha foi por se tratar da igreja que Francisco tradicionalmente frequentava para fazer suas orações