Família pede justiça após influenciador baleado ser acusado de roubo: 'Racismo escancarado'

O disparo que atingiu a vítima foi feito por um policial militar reformado. Na ocasião, Igor Melo voltava do trabalho em uma moto de aplicativo






Por: Ana Fernanda Freire, O Dia

Publicado em: 25/02/2025

Igor Melo foi baleado por um PM reformado após sair do trabalho

Rede Social

Familiares do influenciador do Botafogo Igor Melo de Carvalho, acusado de roubo após ser baleado enquanto voltava do trabalho na Penha, na Zona Norte, negam qualquer envolvimento da vítima com o crime. O disparo foi feito por um policial militar reformado, que estava acompanhado da mulher. Para Marina Moura, companheira da vítima, o caso revela um racismo "escancarado".


O estado de saúde de Igor é grave. Ele passou por cirurgia, perdeu um rim e permanece internado sob custódia no Hospital Estadual Getúlio Vargas. Na porta da unidade, nesta terça-feira (25), a família se reuniu para provar a inocência do rapaz, que estava em um moto de aplicativo indo para casa no momento em que foi atingido. O motociclista, também acusado de participação no crime, está preso.

"É um racismo estrutural escancarado que o Igor teve que pagar com o sangue dele, mas tenho certeza que ele vai ser um símbolo para que isso não aconteça. Eu sempre espero ele chegar, quando demora um pouquinho, eu ligo, mas dessa vez não foi a ligação dele que eu recebi, foi do sócio da casa de samba que informou que ele estava aqui no Getúlio Vargas. Ele está sendo tratado como bandido, está sob custódia, estamos tentando derrubar isso, pra eu poder ter acesso a ele", lamentou Marina.

A mulher da vítima explicou que a princípio achou que o caso se tratava de uma tentativa de assalto, mas foi surpreendida pela acusação de roubo. 

"Quando eu cheguei aqui, não sabia nem se ele estava vivo. Ele conseguiu pedir ajuda a uns amigos dele, que foram até ele e o socorreram. Apesar do tamanho da cirurgia, ele está bem, mas muito agitado, acorda a todo momento dizendo que não tem culpa de nada. Quem conhece o Igor sabe que ele é trabalhador, ele trabalha como inspetor na faculdade, na casa de samba, como ambulante no Carnaval, ele cata e vende latinha, ele quer sempre dar o melhor para nós. O sonho dele é ser jornalista", disse.


Marina contou ainda que a mulher do policial foi quem o acusou de roubo. No entanto, ela teria mudado a versão dos fatos logo depois.


"A bala sempre atinge o corpo preto, as primeiras pessoas acusadas são sempre pessoas pretas. Igor foi mais uma vítima do racismo estrutural da sociedade, graças a Deus ele saiu vivo dessa, já que a maioria não sai. Ele está sendo acusado injustamente de um roubo. À princípio, a mulher tinha reconhecido os dois, depois ela mudou a versão e reconheceu o apenas o condutor da moto", explicou.

Por permanecer preso sob custódia, Marina só conseguiu visitar o marido uma única vez. "Eu o vi depois da cirurgia e a primeira coisa que ele fez foi perguntar sobre nosso filho de 2 anos. Ele falou que não tinha culpa de nada. O Igor é trabalhador, é pai de família. Ele tem um pessoal enorme atrás dele, ele vai lutar pela vida dele e a gente tá aqui para provar a inocência dele, temos imagens da câmeras, prints da corrida, histórico da corrida, tudo", reforçou.

Além de influenciador, Igor cursa publicidade e propaganda na Faculdade Celso Lisboa e trabalha no setor administrativo da instituição. Ele sonha em ser jornalista esportivo e para complementar a renda, durante a noite, atua como garçom na casa de samba "Batuq".

Em nota, os organizadores do evento esclareceram que a vítima foi baleada enquanto ainda vestia o uniforme do trabalho. Na ocasião, Igor e o condutor foram perseguidos pelo carro do PM ao passar pelo viaduto da Penha.

"Igor foi atingido pelas costas e não recebeu socorro dos atiradores. Ainda assim, reuniu forças para enviar sua localização pedindo ajuda. Foi resgatado e levado ao Hospital Getúlio Vargas, onde passou por cirurgia, perdeu um rim e teve estômago e intestino comprometidos. Pouco depois, uma mulher entrou no hospital, visivelmente alterada, acusando Igor de roubo. No entanto, no momento do suposto crime, Igor estava trabalhando", disse a empresa.


Segundo a Polícia Civil,o  fato foi apresentado por policiais militares na 21ª DP (Bonsucesso). O PM reformado e a mulher foram ouvidos. O condutor da motocicleta se recusou a prestar depoimento, optando por só se manifestar em juízo.


"Tendo em vista a internação e o estado de saúde do outro homem, ele não pôde ser ouvido naquela oportunidade. Uma equipe da 22ª DP (Penha) vai ao hospital, nesta terça-feira (25), para colher seu depoimento, a fim de apurar o ocorrido, e realiza diligências para buscar imagens de câmeras de segurança. A investigação está em andamento", explicou em nota.


O que disse a mulher em depoimento?


Em depoimento, a mulher do agente informou que no fim da noite de domingo (23), por volta das 23h, foi abordada por dois homens em uma moto azul, sendo um de camisa preta e outro de camisa amarela, na esquina da Rua Irani com a Rua Conde de Agrolongo.

Na declaração, ela alegou que o homem de amarelo estava armado e apontou a arma para o seu rosto, roubando seu telefone e fugindo em seguida. Na sequência, a mulher narrou que encontrou com o marido e ambos saíram para procurar os suspeitos. No momento em que encontraram a dupla, o PM teria os abordado e dado voz de prisão, mas o grupa da moto teria sacado a arma. No entanto, o agente teria sido mais ágil e feito dois disparos contra ele.

Ainda na delegacia, ela revelou que os homens pularam do viaduto e abandoram a motocicleta no local. Logo depois, a mulher reconheceu Thiago como o motorista que estava de camisa preta e Igor como o homem armado de blusa amarela. O policial militar confirmou a versão da companheira e disse ainda que Thiago teria pedido desculpas pelo ocorrido. A suposta arma e o celular não foram encontrados.



Procurada, a Polícia Militar ainda não se pronunciou sobre o assunto.