Bebê nasce dentro de carro de aplicativo na Ponte Rio-Niterói

Pais, que moram em São Gonçalo, demoraram a conseguir carro de aplicativo para chegar à maternidade; parto foi feito com a ajuda de doula


Por: O Dia

Publicado em: 21/08/2025

Victor Carneiro e Patrícia Praia não chegaram a tempo na maternidade e a pequena Eve nasceu na Ponte Rio-Niterói

Érica Martin / Agência O Dia

Na madrugada da última terça-feira (19), a pequena Eve Zadoque resolveu vir ao mundo de um "jeito diferente": na Ponte Rio-Niterói. A família estava dentro de um carro de aplicativo a caminho da maternidade, quando a menina nasceu.


Victor Hugo Carneiro, analista de dados e pai da criança, conta que a mulher começou a sentir as contrações de madrugada. Segundo o analista, ele e Patrícia Praia, que já são pais de uma outra menina, não imaginavam viver algo parecido.

"Quando as contrações da minha mulher começaram a se intensificar, pensei que era normal e imaginei que ainda teríamos, no mínimo, umas quatro horas, porque, no parto da nossa primeira filha, desde as contrações até o nascimento, se passaram cerca de oito horas. Então eu estava bem calmo".


Patrícia também acreditou que teria mais tempo até o nascimento da menina, tanto é que nem acordou o marido logo assim que começou a sentir as dores. "Eu não imaginava que ia ser tão rápido. Até deixei meu marido dormir um pouco com a minha filha mais velha. Eu jurava que ia nascer no domingo seguinte. Mas as contrações começaram a apertar muito e falei: 'Não, eu aguento'. Até que chegou no insuportável, e falei: 'Fiz besteira. Eu não aguento mais, acho que dessa vez não vai dar certo' e acordei o meu marido".


O desespero começou quando o casal, que mora em São Gonçalo, começou a pedir carros de aplicativo para levá-los até o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro, sem sucesso. O pai relata que um motorista de aplicativo aceitou a corrida, mas ao ver a situação se negou a continuar a viagem.

"Foi quando conseguimos falar com a doula, e ela disse que ia vir buscar a gente com o Uber que ela estava", revela o pai.

Um amigo de Victor teria falado que daria carona para o casal, mas como era de madrugada não atendeu às ligações. O pai da bebê também chegou a contatar Bombeiros e ambulância, no entanto, como a bolsa da mãe ainda não tinha estourado, o serviço não chegaria de forma rápida.

A doula Bruna Lima, que mora em Itaboraí, já estava a caminho da maternidade quando percebeu que o casal não estava atendendo as ligações.

"A gente ia se encontrar no hospital. Eu pedi um Uber por volta das 3h, mas depois perdi contato com eles e achei que era porque já estavam a caminho. Só que quando consegui falar com o pai pelo telefone, ouvi ela (mãe) gritando ao fundo, e eles disseram que ainda não tinham conseguido sair de casa. Aí, eu falei para o Uber que eu estava indo fazer uma parada para buscar eles", conta.

Ainda de acordo com Bruna, tudo aconteceu 12 minutos depois que o casal entrou no carro.

"Assim que subimos a ponte, veio mais um 'puxo', que é a vontade incontrolável de empurrar o bebê. Aí eu liguei a lanterna para ver se havia alguma movimentação, pedi uma toalha para forrar o banco, e logo veio mais uma contração e foi quando apareceu a cabeça da Eve. A bolsa ainda não tinha rompido. Nisso, pedi a manta para o pai, veio mais um puxo e a bebê nasceu. Tudo isso aconteceu cerca de 12 minutos depois que eles entraram no carro."

Victor relata que quando ele e Patrícia entraram no carro ainda achavam que daria tempo de chegar ao hospital. "Eu estava no banco da frente e minha mulher atrás com a doula, e foi quando ela percebeu que as contrações já estavam mais intensas. Mas a doula estava tranquila então eu estava tranquilo também. Caiu a ficha que minha filha estava nascendo quando estávamos subindo a ponte e eu vi a cabeça dela. Eu pensei: 'Meu deus do Céu'".



Embora toda a situação tenha sido inusitada, o sentimento que fica é o de alívio, revela Patrícia. "Assim que ela nasceu, empelicada, e o corpinho dela saiu, a bolsa foi se rompendo e ela já veio direto para o meu colo e ficou até chegar na maternidade. A sensação agora é de alívio... De ver que minha filha está aqui, nas minhas mãos, e deu tudo certo. Foi surreal para mim. Eu fiquei tipo: 'Cara, deu tudo certo. Minha filha está aqui'. Eu não estou acreditando, mas ela está aqui, do lado de fora, e nos meus braços, de onde não vai sair".

Apesar da experiência, a doula não esconde que ficou tensa. "Por mais que seja um momento de adrenalina, foi muito tranquilo, mas por dentro eu estava bem nervosa."


Victor é irmão do secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, que também foi às redes comemorar o nascimento da sobrinha. "Não conseguiu esperar chegar na maternidade e nasceu na Ponte", postou Renan ao lado do irmão, em vídeo publicado nas redes sociais.

Apesar da sua chegada ao mundo não ter sido de forma tradicional, Eve Zadoque Praia Carneiro nasceu às 4h39 saudável, pesando 3,205 Kg e medindo 50 cm.


Coincidência inusitada


Tudo aconteceu no dia do aniversário de André Avelino, motorista do Uber, que afirmou que a situação toda foi "um presente".

"Foi um momento muito intenso. Quando a gente estava na BR, a doula me pediu para ir até São Gonçalo buscar o casal, porque eles não estavam conseguindo chamar um Uber. Assim que subimos na ponte, as dores da mãe começaram a se intensificar. Eu pensei: 'Essa criança vai nascer dentro do carro'. Quando olhei para trás, a cabeça do bebê já estava aparecendo e, quando olhei de novo, a criança já tinha nascido. A gente nunca imagina viver um momento desses. Foi um presentão que ganhei no dia do meu aniversário."

Como era um dia de comemoração para André, o motorista pensou em não ir trabalhar. "Só posso dizer que foi Deus, pelo fato deles não conseguirem condução porque geralmente eu não saio naquele horário, saio um pouco depois, mas como era meu aniversário na terça-feira e eu queria voltar mais cedo para casa, resolvi rodar nesse horário".

A decisão de André, de levar o casal até o hospital, é um dos motivos da gratidão de Patrícia, que revela não ter perdido o contato com o motorista. "Ela foi um presente para todo mundo. Meu marido pegou o contato do André e agora criou uma amizade, porque criou esse vínculo. Ele foi muito solícito, sou muito grata, porque no mesmo dia em que a gente viu portas se fechando para gente, para nos socorrer, a gente viu também portas se abrindo de forma gigantesca"

Carioca ou niteroiense?


Eve nasceu na Ponte que liga Rio e Niterói, mas segundo o pai, a bebê foi registrada como carioca.

"Oficialmente registramos ela como carioca por estar no hospital que é no Rio, mas depois descobrimos que dava pra registar como 'em trânsito', só que ia dar mais trabalho e precisar de testemunhas. Acabamos registrando como carioca, só que não sabemos se ela nasceu em Niterói ou no Rio".

Já André, acredita que a neném seja niteroiense. "Eu vi bem, estávamos subindo no vão central, mais próximo de Niterói do que do Rio, então pra mim ela é de Niterói", brinca.

Enquanto Patrícia brinca que Eve é quem decidirá. "Quando ela começar a falar e cismar que o salgado se chama joelho, a gente vai entender que é carioca. Se ela falar: 'Não, é italiano', entenderemos que ela realmente queria ter nascido em Niterói".


Victor complementou agradecendo a ajuda da doula, Bruna Lima e do André. "Quando ela nasceu, eu já estava chorando pra caramba. Mas deu tudo certo, graças a Deus. Tivemos a ajuda de dois anjos nessa aventura toda", afirma.


O DIA

*Matéria da estagiária Lívia Mendes, sob supervisão de Raphael Perucci

*Colaborou: Érica Martin